domingo, julho 16, 2006

"O farol acende-se"


Há um mar parado na sua invisibilidade
e um marinheiro cego em movimento permanente.
há um marinheiro cego e o mar rente
à face dura da terra e um barco e a cidade.

Ninguém decora os recifes e os corais verdes
e azuis fundem-se em cristais nos olhos do navegador.
há um navegador cego e o mar acordando a dor
da sua cegueira em música de silenciosos acordes.

Há um barco e a cidade e a escuridão e um gigante
Adamastor em cada vaga em cada litro de água salgada.
há a água salgada nos agrestes medos de tudo e de nada
e a coragem que se esfuma no ar talvez por um instante.

O breu da noite engole mais fundo que a aguardente
e arde no cerne da garganta da vida que lenta se afasta.
é a cidade e as suas luzes apagadas a ave que arrasta
a esperança para o abismo onde a verdade sempre mente.

Os milagres não existem na tempestade forjada na loucura
do marinheiro cego em busca da cidade branca banhada de sol.
e há um barco resistindo, um homem persistindo e então um farol
acende-se e derrama o dia no seu olhar molhado pela noite escura.

(José António Gonçalves)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sara
Só hoje vi a tua msg e consequente/ o teu blog! Está tão giro!!! Parabéns! Dou-te a maior força para continuares!

Teresa

julho 18, 2006 2:31 da tarde  
Blogger Fada do mar said...

E eu vim aqui cair por recomendação da Teresa e adorei!
Posso dizer que esta amiga foi o meu farol. ;-)
Eu tenho uma paixão por faróis e este espaço vai passar a receber aa minhas visitas.
Parabéns.

julho 18, 2006 3:50 da tarde  

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