Navio naufragado
 Vinha de um mundo
 Vinha de um mundo Sonoro, nítido e denso. 
E agora o mar o guarda no seu fundo 
Silencioso e suspenso. 
É um esqueleto branco o capitão, 
Branco como as areias, 
Tem duas conchas na mão 
Tem algas em vez de veias 
E uma medusa em vez de coração. 
Em seu redor as grutas de mil cores 
Tomam formas incertas quase ausentes 
E a cor das águas toma a cor das flores 
E os animais são mudos, transparentes. 
E os corpos espalhados nas areias 
Tremem à passagem das sereias, 
As sereias leves dos cabelos roxos 
Que têm olhos vagos e ausentes 
E verdes como os olhos de videntes. 
Sophia de Mello Breyner Andresen 
(Imagem: 'The Shipwreck' de William Adolphus Knell - 1856)


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