quarta-feira, abril 04, 2007

‘O faroleiro’, de Cabral do Nascimento

Apenas este ilhéu é que é pequeno
O resto é tudo grande: o tédio, a vida,
O dia enorme, a noite mais comprida,
E o mar, calmo ou feroz, rude ou sereno;

O tempo, esse narcótico veneno,
A dor, essa letárgica bebida,
O desejo, essa voz enrouquecida,
E a saudade, o distante e branco aceno.

Tudo profundo, imenso, na amplidão,
Eterno quási na desolação
E sobrenatural na solidão.

A luz vermelha a reflectir-se além…
Nenhum vapor que vai, nenhum que vem…
Farol e faroleiro – e mais ninguém.